terça-feira, 23 de março de 2010

A FADINHA

     E durante anos eu me calei...e o silêncio enferrujou meu coração...sentia que algo morria dentro de mim...mas ao mesmo tempo queria gritar. Não podia...Como alguém pode querer morrer aos cinco anos de idade? Como alguém pode odiar alguém quando seu coração é puro, leve ou pelo menos devia ser assim?
Gente imunda apodrece coração de criança...gente imunda que faz com a vida seja nada além de sofrimento e medo... e faz uma criança crescer com um dragão imenso dentro de si, pronto pra sair e devorar quem quer que esteja pela frente... e eles mesmo não estarão para serem devorados... Então o dragão devora qualquer um, e acaba por apodrecer também corações inocentes.
    Era como me sentia até os meus dezessete anos...E é como muita gente se sente quando sofre  abuso sexual.  Além da vergonha, da culpa, e da incerteza que esse tipo de sofrimento causa, ainda temos que conviver com os problemas a longo prazo, como depressão cronica, transtornos do humor e vários outros que só recentemente se tem falado a respeito.
    E é pior do que se imagina, porque muitas vezes os abusadores são pessoas da própria família, a quem temos a obrigação de respeitar e obedecer e ainda mais, a obrigação de amar.
    No meu caso foi uma pessoa muito mais próxima do que se possa imaginar. Até meus cinco anos ele era meu herói..Eu, a tão sonhada menina da família, depois de dois irmãos. Até então uma criança linda, de cachinhos dourados que mal sabia pronunciar as palavras corretamente, mas cantava e dançava como uma fadinha, como toda criança nessa idade, cheia de sonhos e ilusões.
    Mas não foi pra sempre assim. Eu tinha sequer crescido para que ele pudesse me ver com outros olhos. Dos detalhes ainda me lembro, mas ainda não consigo compeender o motivo, nem devo aqui comentar a respeito, mas aquela meninazinha de cinco aninhos e cachinhos dourados nao era aos olhos dele só uma fadinha alegre dançante e feliz. Era mais. Era sua posse.
   Espero poder relatar melhor a respeito durante minhas postagens, mas hoje vou dexar apenas o que restou da bela canção que aquela fadinha cantava enquanto rodopiava e rodopiava... : o silêncio...
    A fadinha nunca mais cantou...

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